está como as minhas magnólias. a calçada do passeio estava molhada, o puto com um par de patins em linha calçado avançou lentamente rente aos edifícios. levava preso sob o sovado esquerdo um papelão quase do tamanho dele, dobrado e seguro também pela mão, o que, a par do piso escorregadio, dificultava-lhe o avanço. o puto passou por dois velhos que estavam diante de uma passadeira, passou com cuidado e sorriu. embora parecesse consciente da figura patética dele, a vontade de experimentar e exibir o produto natalício, os patins, era mais forte. virando-se para trás, os velhos largaram um rol de comentários que tinham como motivo e alvo o caralho do cachopo, comentários que foram em crescendo, devia malhar com os cornos no chão, para aprender como é que é a vida. eram comentários de impotência, olha-me bem para aquela merda, sobretudo de impotência, uma tristeza e depois não prestam para trabalhar, mais de impotência do que de incompreensão. o puto prosseguiu com cuidado, amparando-se com a mão livre, a direita, contra a parede, e os velhos continuaram o lamento e a atenção, olha, olha, ainda vai mesmo bater com os cornos no chão. entretanto, depois atravessar a passadeira, passou por eles uma mulher a falar ao telemóvel, referindo-se ao jardim dela. uma puta, disse um dos velhos para o outro, ambos ainda estancados no passeio. o semáforo voltara a ficar vermelho para os peões. o puto já não estava no horizonte, dobrara na esquina mais próxima. O Marquês.