Restauração redux. Abundam os exemplos das relações desiguais entre o estado e os interesses, difusos ou organizados. Nuns casos o estado impõe-se – e os gentios sofrem –, noutros casos o estado retrai-se ou amocha – e uns senhores safam-se. É o festival do costume, porém agora mais exposto. Não obstante a constatação da incapacidade crescente da política, continua a ser difícil aceitar o estado como menos potente do que é anunciado pela doutrina oficial e presumido pela generalidade dos gentios. Daí que tenda a resistir a ilusão da omnipotência do estado, cuja força maior deriva do não reconhecimento da fraqueza crescente que o afecta. Adiante. Apesar do imaginário, soberania nunca significou omnipotência. Do mesmo modo, independência nunca foi sinónimo de omnipotência. Não espanta, pois, que a pátria ditosa se concretize cada vez mais como comunidade enganada que se engana para poder continuar a enganar-se. Aliás, a democracia que há em portugal tem a virtude de permitir a ilusão, inclusive a ilusão da ilusão, num processo fomentado sobretudo pela hipocrisia. O conforto em relação ao desespero é tão bem fingido que, salvo emigrantes, suicidas ou tontos, ninguém quer mudar, deixar de ser português. É esta contingência egrégia, com uma aduela de língua, quase nada, que continua a segurar isto entre o mar e os espanhóis e o resto. Nicky Florentino.