Uma teoria sobre os limites da ouvidoria. Antes de mais a palavra certidão, a autoridade após a autorização. Pela certidão chega-se à certificação e vice-versa. Na prática assevera-se e extrai-se asseveração para que conste e conste como certo, sem menos, sem mais, exactamente, autenticamente e autenticado. Tudo isto relacionado com auto ou autos. Os de Gil Vicente estão de fora. Depois é preciso que todos finjam que são surdos. Que alguém ouviu mas que é como se ninguém tivesse ouvido. O quê, que é o que mais interessa, poucos sabem ou devem saber. E assim lavra a suspeita já difusa, nada a pode deter, nada a há-de deter. Juízo nenhum a deterá. Alguém há-de julgar algo não procedente. Mas, para que a suspeita não estanque, bastam os precedentes, a que o roteiro do cinismo gentio e ou senhorial dá sempre procedência. Mais cedo ou mais tarde tudo continua na mesma. E pior, porque aumenta a ânsia de verdade e não há asserção ou conclusão que resolva a controvérsia. Como a dissonância cognitiva é difícil de tolerar, há quem troque a liberdade pela necessidade da verdade, pela vontada da verdade, pelo império da verdade. É um engano, talvez útil, porém fatal. A verdade não liberta, apenas desilude. Aquilo a que se chama eufemisticamente democracia é a prova disso. Nicky Florentino.