Never gonna run around and desert you. Sem mazelas ou sequelas, sem cicatrizes ou números tatuados no braço, como é que tantas e tantos conseguiram sobreviver a Rick Astley?, com aquele jogo de bracinhos em balanço rodado, de corpinho e ombrinhos a oscilar, de anquinhas a menear, com camisa abotoada até ao pescoço, tudo tão pisang ambon ou o caralho. Quem padecer de desmemória ou desconhecer o caso pode constatar a prova. Então não se falava de vacinas ou tamiflu. Não havia quem aspirasse ou rejeitasse a inoculação de pandemrix no ombro. Há males que só os anos oitenta passados permitiram grassar. A alienação e a geopolítica nunca possibilitaram chamar-lhe pandemia. Sem exílio ou abrigo, houve sobreviventes ao holocausto dos eighties porque eram como as baratas. Continuam a ser. O caso nunca foi de inocência. Quando começou a operação de alvenaria mais célebre da década, ia já avançado o outono de oitenta e nove, quando iniciaram o derrube de um muro que houve em Berlin, ainda havia quem tivesse pesadelos com a gabardina de Rick Astley. Semelhante à de David Bowie. A guerra fria foi sobretudo para distrair. Segismundo.