Spirit lake. Apesar da socialização urbana, sinto-me moça de campo. Ave, não criação de capoeira. Mas não é certo. O que é certo é que prefiro cabidela a sardinha assada. Puta que pariu a sardinha assada. Talvez isto seja um indício, não sei. Os meus vizinhos acham que eu tenho a mania. Tenho. E inveja também. São ultramodernos, dizem clones e são capazes de dissertar sobre biotecnologia enquanto ascendem no elevador. Eu saio no quinto, ela, bisca lambida, e ele, choninhas, antes. Até usam gadgets que não sei para que servem e vão a restaurantes chiques, com muitos talheres na mesa e que não têm cozido à portuguesa no cardápio. Eu sou cachopa antiga, sei apenas e mal o que são mutantes e tenho um ipod. Gosto de batatas fritas escorridas sobre papel pardo e sou capaz de me perder quando exala o perfume da terra lavada pela chuva. No fundo sou bicho do mato. À superfície sou gaja. Com operação feita aos olhos que a terra há-de comer. Porque não padeço da síndrome de Thoreau, quero é que os meus vizinhos se fodam. A viúva.