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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2009-04-21


Um, dois, três, diga lá outra vez. Uma entrevista é uma entrevista, não é um show de «mostra tudo, tira a cuequinha também» ou um diálogo de confessionário. Não obstante, porque as entrevistas são um ritual importante do processo político, abunda a ilusão de que são um jogo de resultado incerto e, sobretudo, que o entrevistado está disponível para a verdade, a verdade apenas e nada menos, nada mais do que a verdade. Porém sucede que, em política, a verdade é performativa. Ou seja, a verdade não é o que corresponde ao verdadeiro, a verdade é o que, por operação e força simbólicas, se institui como verdadeiro. É por isto que, servindo mais um propósito de instituição do que de verificação, raras são as entrevistas reveladoras, que podem ser reveladoras. Hoje à noite, na rêtêpê um, foi o que aconteceu. O senhor primeiro-ministro patati patata e tudo como antes, incluindo aquela tirada sobre «jornalismo travestido». O problema do fulano é que, embora dispositivo de opacidade, uma entrevista televisiva acaba por mostrar e revelar sempre mais do que o entrevistado pretende. E, como os gentios necessitam de resolver a dissonância cognitiva que os assola lá em casa - agravada pela circunstância de, dizem, haver para aí uma crise económica com proporções do caraças -, não há como iludir que a carinha laroca do senhor eng.º José Pinto de Sousa já pareceu de rapaz menos crispado e, sendo ele um senhor, mais simpático, mais «cá dos nossos», como anseiam os gentios. Pelo que pode ser que a criatura se foda por não saber dançar. Nicky Florentino.


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