O meu zombie querido manda dizer que disse, ix. Há cento e cinquenta anos mais um nasceu Georg Simmel, cujo pai era proprietário de uma fábrica de chocolate - isto é um pormenor muito importante. Georg foi fodido até mais não por motivos vários. Apesar disso, dissertou sobre a modernidade, sobre a tragédia moderna, com uma elegância filha da puta. Elegância analítica e filha da puta ao mesmo tempo. Tinha olho de falcão, lance de leopardo e precisão em suspensão de colibri. Flâneur - como o tipo sugerido por Benjamin - para uns, bricoleur - como o tipo sugerido por Lévi-Strauss - para outros, kantiano primeiro, vitalista depois, ele manteve uma atitude epistemológica constante só possível antigamente, quando ainda se procurava descobrir o que é que raio é a verdade. Actualmente vozes e vozes, algumas em êxtase excessivo, algumas outras em tom de salmo ou de papagaio, clamam que ele foi precursor disto e daquilo. O homem foi fodido até mais não e dizem-no avant-garde do juízo por minudências. É verdade que ele foi muito, foi muito e muito depois. Tão fodido, em consciência e por opção não fez escola. Os fodidos não fazem escola, deixam influências. Foi sociólogo quando ainda era decente ser sociólogo, antes de haver sociólogas e sociólogos, gente que constitui uma das pragas hodiernas mais deletérias. Bons velhos tempos, os de Georg Simmel. Se fosse vivo, morreu nas vésperas do termo da grande guerra de catorze-dezoito - foi fodido definitivamente por um cancro no fígado -, hoje ele seria capaz de explicar fenómenos como a senhora Manuela Moura Guedes, do mesmo modo que explicou, por exemplo, o dinheiro, Rembrandt e a transformação da dignidade das putas urbanitas, antes de, conta-se, cansado da guerra e da cidade, ter deixado de ler a imprensa e ter-se retirado para um bosque. A viúva