Derrame sobreontológico. Procuram-se sentidos. Há quem os procure no princípio, há quem os procure no fim. Esta demanda não deixa de ser um exercício irónico, no motivo e no alcance. Porque procura-se o que não se perdeu justamente porque não se perdeu o que se procura. A propósito, há aproximadamente dez anos, Sloterdijk aludiu numa conferência célebre ao Menschenpark. É o que habitamos quase absolutamente. Quase absolutamente porque a intimidade permanece reduto, o ponto de tensão entre a pulsão e a inibição. Um problema de sempre. Talvez seja uma invenção, não se sabe. O que se sabe mais ou menos é que tudo o que é interior desvanece-se no exterior, do mesmo modo que tudo o que é exterior desvanece-se no interior. Portanto não há saída, talvez até não haja desvanecimento. Parece que a tragédia não está a acontecer num palco, acontece-nos no corpo, precisamente na carne de cada um de nós. Às vezes o que parece é, sem se saber porquê. Baú (do Segismundo).