Parcourant l’Amour Monstre, de Pauwels. O meu amor nunca conversou comigo sobre Deleuze. Olhava-me de soslaio sempre que eu tentava inclinar a conversa para ele e começava a cantarolar Brigitte Bardot, iô, iô, iô, ficando nisto até eu me irritar e começar a dobrar e a riscar as páginas dos Derrida dele. Uma vez ou outra, as primeiras em que tentei fazê-lo, quando percebeu, ele reagiu com indignação. Mas depois deixou de ligar. Também desisti desse, disse-me mais tarde, numa declaração de desalento. Mentiu-me apenas para que eu não continuasse a danificar - danificar, esta foi a palavra que ele usou - os Derrida dele. Percebi isto agora, exactamente agora, no momento em que nada tenho para atear a lareira. Pensando melhor, corrijo a sentença: no momento em que julgava nada ter para atear a lareira. Suspeito que os Derrida dele, ainda por cima em francês, hão-de arder bem. A viúva.