De esotérico a exotérico. O futebol é um jogo simples. No âmbito de determinadas condições e circunstâncias e sob o espectro das contingências, pretende-se concretizar a improbabilidade de encavar um objecto com características determinadas através de um plano, com comprimento e altura regulamentares, previamente definido. Ou seja, dentro dos limites que são os limites da vida, adaptados e aplicados devidamente ao ludopédio e às dinâmicas possíveis num hectare, pretende-se que causas específicas produzam consequências expectáveis. Ataca-se para marcar golos, defende-se para evitar golos. Há margem para repetição do sucesso e do erro, porque uma partida de futebol tem duração larga, cronometrada em noventa minutos, cindida em duas partes iguais. Claro que no cérebro do mister Jesualdo Ferreira a relação entre causas e consequências talvez seja mais sofisticada, de ordem quântica, do que simples, de ordem mecânica. Deve ser por isso que o futebol praticado pelo Futebol Clube do Porto durante os últimos tempos - tempos que são anos - é um futebol de tipo seja o que deus quiser. Que é sinónimo de merda. O que significa que, se o Futebol Clube do Porto tivesse um treinador de futebol e não um mero devoto do voluntarismo divino, talvez os resultados - o desta noite e tantos outros - pudessem não ser produto do acaso, mas de uma intenção, de um alinhamento, de uma tentativa. Aliás não é preciso ter ido à catequese para saber-se que, como no mais das coisas importantes da vida, no futebol a vontade de deus nunca foi sistema bom. Intendente G. Vico da Costa.