pranchas d’artaud & mishima
# ii. artaud, o corpo é uma sede oca, este é o enunciado do que sou. desejo substituir uma palavra, uma só, e preservar o sentido do verso que, na sua escuridão soberana e precisa, manifesta melhor o meu corpo. em detrimento do cérebro pretendo a mancha, quero a mancha, mancha é mais exacto, de modo que a secret meeting in the basement of my brain * seja a secret meeting in the basement of my stain. é o mesmo, talvez seja o mesmo, porque não distingo a reserva das parcelas orgânicas que me constituem. corpo e nódoa, sou isto, aceito esta definição de mim. visto uma camisa e disfarço a nudez que é a minha guarda avançada, camuflo o envelhecimento da pele e as rugas, a fraqueza da carne e do que a conjuga. mais?, sonho acordar um dia com o coração revelado e não importar-me com isso. mishima, e todas essas palavras significam o quê? artaud, uma espécie de morte, uma aspiração ao passamento, não sei bem. mishima, já pensaste em suicídio? artaud, quero ser carne apenas, carne inteira, não quero ser cartesiano. Edgar da Virgínia.
__________
* verso da canção “secret meeting” (in alligattor, beggars banquet records, 2005), d’the national.