o Faustino resineiro. após uma semana calado, Faustino avisou-a, vou à caça. por ela ouvir estas palavras, os seus olhos brilharam. ele voltara a prestar-lhe atenção. vai, meu amor. se voltares cedo, a tempo de dar para eu amanhar o que caçares, comerás ao almoço o que trouxeres. a última tábua do soalho sobre a qual ele colocou o pé antes de sair de casa rangeu e foi esse ruído que ela guardou como reacção dele. não obstante ela não esmoreceu. ele falara-lhe, quebrara o silêncio de sete dias, e os olhos dela continuaram a brilhar por causa disso, não por ele nada ter dito para além do aviso. saído de casa, ele avançou em direcção ao pinhal, segurando a besta com a mão canhota. no trajecto parou uma vez para recolocar no golpe do tronco de um pinheiro o recipiente para recolha de resina caído junto a um troço grosso e mal enterrado da raiz da árvore. não largou a arma. retomou a marcha e consertou a alça da aljava em que transportava as setas que, com as próprias mãos, havia arranjado. era um atirador exímio. nas épocas venatórias, com a besta conseguira feitos que outros não conseguiram igualar com espingarda. a prova? abatera aves com envergadura tanto pequena quanto grande, coelhos, lebres e até javalis, sem companhia de outros caçadores ou auxílio de cães, algumas peças em quantidade que suscitava inveja. passou a mão viscosa nas calças e continuou a andar, em direcção à extrema do pinhal, definida pelo ribeiro que cortava o lugar, dividindo-o entre o lado mais umbroso, onde estava situada a maioria das habitações, e o lado mais soalheiro, terraplanado e ocupado por negócios vários. ele não atravessou a linha de água. antes de ficar exposto ao outro lado, carregou a besta, agachou-se, encostou o ombro direito à conífera mais próxima e ficou em tocaia. pouco depois soou uma gralha. constatou-a, porém negligenciou-a. o tempo foi correndo e ele perseverou na espera e na expectativa, em posição. até que assentou a arma, apontou-a e disparou. em casa, a mulher dele sobressaltou-se no instante em que, durante o intervalo do barulho da máquina de costura, pareceu-lhe ter ouvido um grito. sexta-feira de quaresma não é dia de caça nem é dia de comer carne. ela sentiu um arrepio, temeu o pior, qualquer que fosse a desgraça na circunstância. não sabia dizer o que ocorrera ou sequer estava em condição de afirmar que algo ocorrera. parecia-lhe que tinha acontecido um infortúnio e isso era capaz de afiançar, mesmo se, com excepção da angústia que lhe assomara, não tinha motivo para tanto. percebendo o alvoroço lá fora, ela decidiu ir averiguar. abandonou o trabalho, deixou a peça que estava a alinhavar a meio, bateu a porta atrás de si e seguiu as outras pessoas. como elas, acelerou o passo. adiante repetiam-se os gritos, gritos de homem. foi um acidente na carpitaria, alvitrou uma das vizinhas mais adiantadas. O Marquês.