Mr. november. Na américa as ideias têm uma força extraordinária. Há de tudo, do bom e do mau, em proporções do antigo testamento, com impacto sobre a ordem e o estado das pessoas e das coisas assim como sobre a mudança ou a transformação de tais ordem e estado. Durante a última madrugada, aqui, no meridiano do rectângulo, ficou a saber-se que um neguinho escanzelado vai ser o próximo mister mundo, confirmando-se o vigor do seu slogan de campanha, yes, we can. Muitos asseveram tratar-se de um momento histórico. Talvez seja. A partir de janeiro próximo, o commander in chief norte-americano será um baap e não um wasp. Um baap é um nigger nada ou pouco cocksuckermotherfucker, consta que um espécime de uma minoria dentro de uma minoria. Nicky Florentino. Ao contrário do que muitos pretendem, não surpreende a eleição de quem será o futuro hóspede da casa branca em washington. De facto na américa as ideias têm uma potência extraordinária e suplantam ou transformam ocasionalmente as forças duras da ordem e do estado das pessoas e das coisas. Atente-se no caso seguinte, para perceber-se que a madrugada anterior não confirmou algo que mereça ser classificado como excepcional. Recentemente um canal de cabo emitiu um documentário sobre fulanos estacionados no corredor da morte em prisões norte-americanas, a aguardar a execução da sentença respectiva. Embora todos exalassem algo que atraía e fascinava as mulheres, um deles destacou-se dos restantes pelos factos expostos adiante. Um dia, fresco no cárcere, ele recebeu a visita de uma das psicólogas do estabelecimento prisional. Ela de um lado das grades, ele do outro lado. Ele olhou-a nos olhos e ela sentiu de imediato um efeito de domínio que não consegue explicar. Uma força misteriosa vencia-a. Recorreu ao repertório de tácticas psicológicas, recomendadas para situações do tipo, mas ele controlou o encontro. Ela tentou estabelecer um diálogo com o condenado, para cumprir um procedimento institucional qualquer - redigir um relatório sobre o fulano ou não sei quê -, mas, às tantas, ele informou-a que apenas com a força do pensamento conseguia intumescer o pirilau e suscitar-lhe a ejaculação. Ela duvidou, provocou-o e ele dispô-se a provar a sua capacidade naquele instante. Em dois minutos a erecção estava consumada, em oito minutos ocorreu a purga de sémen. Isto sem qualquer estímulo físico, manual ou de característica outra, e mantendo ele um diálogo fluente e não lascivo com a interlocutora durante mais de sete minutos. Exposta perante prodígio tamanho e a evidência de quão podia a ideia daquele homem sobre a matéria, a psicóloga abdicou do emprego público - na sequência tornou-se proprietária de uma oficina de automóveis -, para poder envolver-se afectivamente com o condenado, tendo contraído matrimónio com ele. Mudança implica tesão, é o que é. O que significa que, se alguém duvida da potência das ideias (e dos afectos) na américa, não é com o que aconteceu ontem que pode considerar-se esclarecido. Quando comparado com a proeza do condenado, entretanto executado, o que aconteceu ontem é uma banalidade. Uma viúva atesta-o. O morto, esse, era tão ou mais escuro do que o mister Obama. Segismundo.