A senda da liberdade. Com a crescente descoincidência entre política e poder - facto em si emancipador, no sentido em que o poder é distribuído e passa a ser plural -, parte significativa do exercício político visa manter as aparências. Existe nisto insânia, obviamente. Por exemplo, anteontem a senhora dr.ª Manuela Ferreira Leite foi entrevistada num canal televisivo, para parecer que tinha algo a dizer, embora tenha sido mais, muito mais, o que não disse, não se sabe porquê. Há a hipótese de ela ter dito apenas o que quis dizer, há a hipótese de ela não ter mais para dizer, assim como há outras hipóteses. Porém o que releva da entrevista referida é o jogo das aparências, o esforço investido na sua preservação. O mesmo sucedeu no dia seguinte, ontem, com a entrevista do senhor eng.º José Pinto de Sousa, noutro canal televisivo. O fulano falou, explanou, avisou, anunciou, como se estivesse a bascular a orientação política do governo. Conversa, claro, para nada que seja significativo mudar. É por isto que, apenas sob a condição de se livrarem das ilusões e dos ilusionistas d’état, as pessoas poderão ser condicionadas pela autenticidade e, portanto, mais livres. Nestas circunstâncias, quem continuar a iludir-se, iludir-se-á em solidão, a estipêndio de si, do seu juízo, do seu corpo, das suas possessões. E a ordem espontânea das coisas, o melhor de todos os regimes, tratará de arrumar na miséria quem, em detrimento da sua realidade, entregar-se a devaneios e ilusões, formas sublimadas de grilhetas. Fred Augusto de H.