Gens d’état. Na sua encarnação como maiorial do estado, em Abril do ano corrente o senhor Silva foi ao arquipélago da Madeira armado em madame Bruni. Foi como voltou, vestido. Sem uma palavrinha, balbuciada que fosse, comme si de rien n’était, sobre o facto de a assembleia regional autóctone não o ter acolhido em sessão solene e sobre a justificação aventada pelo senhor dr. Alberto João Jardim para o caso. É verdade que uma visita do senhor presidente da república à ilha da Madeira vale o que vale, nem mais nem menos do que isso. Mas sobeja memória suficiente sobre o seu silêncio e, portanto - porque quem cala consente, mais ainda quem deve velar pelo funcionamento normal e regular das instituições da república -, sobre a sua cumplicidade em relação à apreciação como bando de loucos de um conjunto de criaturas com assento na assembleia regional da Madeira. Agora, porém, quando bastava-lhe remeter uma mensagem ao parlamento - que encerrou entretanto para o pessoal poder gozar férias -, o senhor prof. doutor Aníbal Cavaco Silva fez constar aos portugueses o seu desagrado em relação a uns pormenores quaisquer do novel e tentado estatuto político-administrativo da região autónoma dos Açores, para além dos pormenores com os quais o tribunal constitucional embirrou. Ui. O povo ficou sobressaltado. Provavelmente já não vai a banhos. Ouvem-se os uivos das massas gentias inquietas. Ai que a pátria está para partir-se. Ai que o senhor presidente da república, senhor grave e sério, qualquer coisa. Não interessa o quê. O que fica por explicar é por qual raio, se não mereceu uma ilustração a propósito das declarações cavilosas do senhor dr. Alberto João Jardim sobre a composição da assembleia regional da Madeira, a malta houve de ser incomodada hoje com as condições nos termos das quais poderá o senhor presidente da república decretar a dissolução da assembleia regional dos Açores. Agora o senhor prof. doutor Aníbal Cavaco Silva quer que o levem a sério - e tem motivos para isso, porque, não obstante a unanimidade parlamentar, o diploma tentado sobre o estatuto político-administrativo da região autónoma dos Açores parece ter sido concebido e amanhado com os pés do pessoal emprestado à honra da deputação. Mas o eco do seu silêncio anterior, também em relação a um paraíso insular - o da alucinação banana -, não dá para o levar muito a sério. Antes amochou, agora empina. Está bem. Como os outros, também ele quer jogar ao aí vai alho. Para ver se vai. Que vá. Mais cedo ou mais tarde vamos todos. Nicky Florentino.