comporta tannhäuser
dezassete papéis de tamanhos vários por resolver. o tempo draga-te o coração, a cabeça. sentes a culpa a crescer, a ultrapassar-te os gestos. algo que não consegues precisar detém-te a partir de dentro. começas a ficar demasiado atrás e para trás, comprometendo a hipótese de recuperação. ranges os dentes quando ouves love me tender na telefonia. não é diferente quando ouves a repetição do verso com sweet, true, long ou dear. tomas a decisão, o fim, hoje, ainda hoje. nunca disseste sou a melhor do mundo a dançar slows, não por não ser verdade - a verdade é que quase não deixas que te toque -, mas por, mesmo que fosse verdade, parecer-te uma afirmação pirosa. tens o hábito de escolher as palavras, como se elas tivessem beleza e calibre preciso. agora olhas-me sem olhar, o calor perturba-te, falas contigo. mas não diante do espelho, falta-te a coragem e pareceria que estás a ensaiar um discurso. hoje, ainda hoje, o fim. eu estou junto à porta de casa, espero-te. tu estás no hall de entrada, a concertar o cabelo. o último retoque. quando disparo, estás de costas para mim, cais sem amparo e sem saber porquê. Edgar da Virgínia.