A propósito de pacotes de massa cotovelinho et cætera, ii. The National é uma banda de gente de duas famílias, os manos Dessner - Aaron e Bryce - e os manos Devendorf - Bryan e Scott -, e um intruso com fama de barítono - Matt Berninger. Grosso editaram quatro lps, The National (Brassland Records, 2001), Sad Songs for Dirty Lovers (Brassland Records, 2001), Alligator (Beggars Banquet Records, 2005) e Boxer (Beggars Banquet Records, 2007), e dois eps, Cherry Tree (Brassland Records, 2004) e The Virginia (Brassland Records, 2008). Antes de editarem o álbum com nome de jacaré - uma espécie de casaco Lacoste em canções -, em doismilecinco, parece que tinham empregos decentes, nos computadores. E é aqui que a coisa começa a degradar-se. Mais ainda. A maior parte das suas canções são canções tão lindas, tão fodidas, sobre a dor que não mata, sobre a tristeza remoída, remoída e remoída, que poderiam ser ouvidas num velório. Ai o meu coração arrombado, partido, ai que dói tanto, e a culpa é tua, cabrona. Ai ó Abel leva-me contigo. Ai ó Ada não fiques muito tempo no lago e fica a saber que eu oiço o teu riso histriónico. Ai ó Ana Freud sou todo teu. Ai ó Karen espera um bocadinho, que eu sou melhor do que pareço. Ai Mary americana, como a bolacha, ai ai, é não e é sim. Ai ó Rachael fode-me, mata-me, todo. Ai não sei o quê, tu és um espanto de calar, como a buzina de um camião dos bombeiros vindo de França para animar um casamento de emigrantes em Agosto, quando faz muito calor, querida, e o teu espírito acelera mais do que o Ayrton Sena. E ai e hoje como é que vai ser a nossa vida?, tu afastada, saída, quão próximo estou de perder-te? Isto ao longe já é medonho, agora imagine-se próximo, ao vivo. É o delírio. Matt Berninger - o Matt, para os íntimos - empoleira-se em cadeiras caras, as doutorais da aula magna da universidade de Lisboa, e a malta ampara-o para ele poder rezar aquela ladaínha sinistra ai eu, o senhor novembro, antes era levado nos braços das meninas da claque, as claquetes, do slb. Ele grita I won't fuck us over e a malta acha piada. Pungente. É tudo mentira, mas a malta acha piada, por poder ser verdade. Não é verdade, mas nas canções soa bonitinho. Quase dói. Em rigor não dói, mas a malta gosta de fingir a mágoa, o coração amassado, a desorientação porque ela ou ele foi embora, com outra ou outro. A malta é possessiva e o amor é um cabrãozão, é o que é. Por isso a malta compreende - no sentido hermenêutico, que pressupõe vivência - as canções dos The National, que versam amores quilhados, abrasivos, de grão grosso, como sal nas feridas, e quase parecem adequadas para esfregar as costas. Fazem lembrar os sabonetes Ach Brito, ui, aquele perfume a certeza e a alfazema, do tempo em a mamã ainda nos lavava na banheira, com água da companhia - sim, porque, não obstante a mortificação, somos urbanos -, temperada, nem excessivamente fria nem excessivamente quente, e tínhamos um crocodilo verde de borracha para entreter. Com facas com lâmina de serrilha provavelmente seria melhor, porque o corpo sofreria a condizer, mas, não, a malta prefere as canções dos The National, limpinhas, arrumadinhas, certinhas, com versos tontos, seja a invocar impérios de fancaria ou luvas verdes, porque ressoam-lhe no coração. Está bem. Mas quem é que fica a olhar para astronautas e depois canta my medium-sized american heart? Mesmo um gajo que vê o Armageddon, realizado por Michael Bay, não fica em tal estado. Segismundo.
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