Uma vida em atraso. Imagine-se uma parcela do passado acumulado no quarto, em torno da cama, sob a forma de pilhas várias, livros, recortes de jornais, revistas, cds, dvds, cadernos, papéis esparsos. Imagine-se uma parte do futuro acumulado da mesma forma, mas em proporção maior do que a do passado. A desproporção, indício da dimensão da demora, intensifica a sensação de naufrágio. O que, por seu turno, alerta a consciência antecipadamente para a necessidade de perder. Nesta circunstância, fazer opções é decretar liminarmente alguns fins, para preservar parte das esperanças. Ainda assim, o futuro cresce a maior velocidade do que o passado. Uma desgraça, não conseguir envelhecer à cadência do tempo que passa. Segismundo.