Realidade, a grande superfície que não encerra ao domingo à tarde, i. Alienada ou cedida, posta na condição de assistente ou espectadora, a malta pátria sobressalta-se com a efervescência anómica. Alguém dispara sobre alguém, ai jasus. Uma aluna envolve-se numa disputa com uma professora, ai jasus. Qualquer coisa, um acidente, uma desgraça, um azar, uma contingência, e ai jasus, meu deus, nosso senhor, que são as vésperas do fim do mundo. De onde é que vêm estes episódios?, o que é que os determina? A pergunta é pertinente porque para a generalidade dos gentios a realidade anómica é um rol de consequências sem causas. Há uma ordem suposta, tudo arrumadinho, asseadinho e com muito respeitinho, e, depois, há os desvios ao padrão ordenado. Embora parte da realidade chocante e nauseante que também é a realidade de todos os dias, estes desvios são percebidos como episódios extraordinários e, portanto, extra reais. Analistas mais arrojados propõem como explicação da ocorrência dos episódios referidos a dissolução moral ou, o que é o mesmo por outras palavras de outros mais ou menos iguais, a depreciação do capital social. Mas a anomia institucionalizada sob formas diversas quase ninguém a quer ver. A ilusão é mais bonita e é mais tranquilo imaginar que as coisas não são o que são, um pandemónio. Segismundo.