Venha a nós o nosso reino. Portugal é uma ilusão ou, no conceito de Benedict Anderson, uma comunidade imaginada. E é justamente tal ilusão, plasmada numa imagética e numa simbólica que a inércia faz duradoura e institucional, que lhe confere unidade. Por outras palavras, Portugal não é uma entidade fundada num contrato de solidariedade. Os vazios que se vão abrindo no território pátrio, antes por abalada ou encerramento de quase tudo, depois por liquidação demográfica, são a prova de tal facto. Em termos de estado, esses vazios são twiligh zones autênticas. Mas para que não pareça, porque isso desampara a ilusão da nação valente e imortal, o que é uma chatice do caraças, finge-se existir uma rede a cobrir o chão pátrio. É por isso que há quem julgue que as distâncias, quaiquer que sejam, se colmatam com telefonemas. Mau juízo. Porque as distâncias são também distâncias comunicativas. Do que resulta a fatalidade de, por défice de compreensão, haver incompreendidos em Portugal. Mas a paisagem é bonita, dizem. E os telefones alcançam e funcionam muito bem, lá, longe. Nicky Florentino.