O mordomo dos suplícios, ii. Naquele instante, em acto, o que o preocupava não era o eventual excesso de crueldade que pudesse estar a usar. O que o preocupava era uma questão de competência, a velocidade dos seus gestos, a cadência com que infligia o plano do suplício. Pois sabia que, se fosse demasiado rápido, o ciclo de cada tormento seria interrompido, fundir-se-ia o padecimento anterior com o seguinte, produzindo uma espécie de dor contínua e única, o que amenizaria o sofrimento do castigado. Na prática não lhe interessava o tamanho da culpa do condenado. Atendia sobretudo ao modo demorado, porque mais doloroso e, portanto, competente, de administrar o castigo. O Marquês.