Über dem Narbengelände. O rapaz ficou trancado numa sanja do tempo, o dia entre o domingo e a segunda-feira. O lugar não tem portas, do que resulta que não há maçanetas ou puxadores para usar, não há fechaduras para arrombar. O lugar também não tem janelas. Trancado num espaço amplo sem horizonte - trancado no limbo, que é como ele se sente -, o rapaz entretém-se a amanhar a auto-recriminação. Acusa-se e guarda-se sem defesa, a observar os acontecimentos a acontecer, sem interferir, como se acontecessem longe demais de si, para além do seu alcance, do seu cuidado ou da sua necessidade. Cativo num domicílio de onde não há saída, desistido e amparado na culpa que amanha, como uma cicatriz é ainda carne, ele aguarda a sentença, sem rumor de esperança. É uma questão de tempo, de tempo dentro de um tempo que não há. Sente-se o odor da insânia. O Marquês.