Aguarela de Grosz. Quem é o responsável? A miasma gerava uma espécie de sufoco. Quem é o responsável?, repetiu a interrogação, desta vez como grito. Não soou qualquer voz. Deus, onde estás?, por que não respondes? Segurava uma lanterna. A chama apagou-se. Deixaste de ser o responsável?, é isso?, ou nunca foste mais do que imaginação? Continuou a andar entre os cadáveres, pisando-os para avançar. Ouvia-se um som semelhante ao de frutos maduros a serem esmagados. Era como se caminhasse sobre chão alagado. É isto o resultado do apocalipse?, é assim que o mundo vai acabar? Os pés afundavam-se e produziam um som viscoso ao amassar a carne dos mortos. Parou, cansado. Em rigor, não necessito de respostas, necessito de coordenadas que me orientem para a saída deste campo vasto de carne, murmurou para si. Flectiu ligeiramente os joelhos, colocou sobre eles as mãos, baixou a cabeça, encontrando o queixo com o peito, e fez exercícios de controlo da respiração. Tomado pela fadiga, naquele instante decidiu esperar pela aurora. Com luz, presumiu, saberia em que sentido avançar. Uma vez mais, após encher o peito, expirou com força. A matilha, que o estava a vigiar, esperou também. O Marquês.