Ralenti. O regime não está para demoras. O tempo escorre rápido. Há um atraso acumulado, condição que o faz permanente. E há uma recuperação que nunca se consuma. Apetece acusar as horas, as mesmas que acolhem o atraso, que o ditam e confirmam, não na pele, na carne, fundo. As putas, as grandes putas, as horas que afastam o horizonte, que acrescentam a detença, que desenham a distância ao fim. São elas. Por que é que deus não nos equipou para as delongas?, para as ânsias? e para as angústias também? Por que é que os gestos, mesmo os lestos, pronunciam-se com lentidão sobre o tempo? A natureza fez-nos para a mazurca lenta, para a experiência derramada, para amanhar devagar as coisas e os outros. Por isso, agora, ser revolucionário é martelar os cronómetros, partir o calibre médio de Greenwich. Estancar o ritmo com golpes fortes, não com a urgência. Voltar a foder sem pressa, com consequência. Porque correr atrás do tempo é continuar a falir, é continuar a ficar para trás. Segismundo.