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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2007-09-18


uma mão sobre Pavese. Dirigiu a mão trémula, a mão direita, à garrafa de bourbon. Pareceu avocá-la com o gesto. Como permaneceu distante, foi obrigado a concertar-se na cadeira para poder alcançar a garrafa. Agarrou-a, encontrou-a com a boca, bebeu dois tragos longos. Devolveu a garrafa à mesa com estrondo e deixou a mão abandonada sobre aquele corpo de vidro, como se o segurasse. Desde o acidente, estas crises eram recorrentes. Aquela casa e, dentro da casa, aquela sala transformaram-se no domínio da sua evasão. A garrafa era a lâmpada da expiação. Prova-se a liberdade e produz-se um efeito de dependência somática. Não é pelo espírito que se deseja a liberdade ou se necessita dela. Na origem o corpo resiste, porque com a liberdade vem o incerto e o corpo não é atreito a plataformas sem densidade, como o ar ou a água. Neste sentido, no princípio talvez seja o espírito que depoleta a curiosidade, inclinando à liberdade. Mas depois, ainda que pelo espírito possa justificar-se tais desejo ou necessidade, como continuidade a liberdade é uma exigência própria do corpo. Repetiu o acto, bebeu mais dois tragos longos de bourbon. Sentiu um ardor instalar-se no corpo, primeiro descendo até um ponto alinhado com o umbigo, depois estendendo-se por toda a carne. Desta vez largou a garrafa. Depois procurou uma página específica de Lavorare stanca. Para além da garrafa de bourbon, o livro era o único objecto sobre a mesa. Uma chispa de sol, ténue, embateu no soalho, junto aos seus pés, interceptada e reflectida por uma janela que o vento empurrara para dentro. Pousou o livro sem conseguir encontrar o poema que procurava. Bateu com clamor na sua capa, duas, três vezes. Alguém rasgara algumas páginas, levando o deus-cabrão. Filhos de uma puta, cambada de filhos de uma puta. Comportava-se como um animal instintivamente disposto a defender a integridade do seu reduto, a começar pelo corpo. Perseguiram-me, matei-os. Desmanchei os seus cadáveres. Agora os chacais têm repasto. Sou livre. Havia tempo que, por suspeita, tentavam capturá-lo e submetê-lo a um teste de culpa. Várias brigadas foram envolvidas na perseguição, missão que se revelou mais difícil do que inicialmente estimado. Outros mais que venham ao meu encalce encontrarão destino semelhante. Os chacais continuam com fome. Com consciência da respectiva inocência, porém acossado, sentia que, através da culpa que lhe atribuíam por suposto, estavam a roubar-lhe o corpo, fazendo de si um fantasma. Por isso não admitia a hipótese de submeter-se a julgamento. Conforme entendia, a assunção de tal hipótese implicava tolerar uma hipótese de culpa que não tinha. Ele estava decidido, jamais entregaria o corpo. Outros mais que venham ao meu encalce aprenderão o que é a defesa de um homem livre, o seu corpo, as suas mãos, a sua faca. Continuou a esperar que chegassem. O Marquês.


2003/2024 - danados (personagens compostas e sofridas por © Sérgio Faria).