aquilo atrás da máquina de flippers, iii. Antes de Guadalupe Müller começar a falar, há em ti um problema de medida, que é o mesmo que dizer um problema de gravidade, ninguém tinha reparado nela. Aliás, agora parecia uma personagem deslocada. Falava sobre o perigo que as máquinas constituíam, todas as máquinas, com ênfase de pregador. Quando digo todas as máquinas, digo as máquinas de flippers inclusive e apontou uma Dona Elvira, a relíquia da casa. Muitas mãos acariciaram aquela máquina, suaram sobre os seus cantos. Muitas mãos de muita gente bateram-lhe, aprendendo a explorar a folga do tilt. Desde sempre houve sobre o seu quadro uma placa com uma inscrição misteriosa, es muß ein Mensch an der Maschine sein!, que ninguém conseguiu decifrar, mas que a não poucos fez recordar a placa posta acima da cabeça do mais célebre dos crucificados. Nunca a alguém aquela máquina pareceu perigosa. Pelo contrário, por ser uma máquina com poucos melindres, à antiga, todos os dias conseguia atrair clientes. Porém Guadalupe Müller acusava-a com a mesma inclemência com que acusava todas as outras máquinas. Alguém sabe o que está atrás daquilo? e continuou a apontar a Dona Elvira, mais precisamente a parede a que a máquina estava encostada, como se apontasse um poço de horrores. o Marquês.