se só deus existisse. Começou por ser uma acusação, estás satisfeito?, embora não como as outras, tantas, que lhe foram dirigidas antes. Não, respondeu ele. Encontrou a mão áspera com o ombro despido, que estava a ser soturado. Porquê?, perguntou-lhe a enfermeira, ao mesmo tempo que lhe laçava a carne. Ele observou o fio a correr entre si, a ser apertado, para aproximar os flancos da ferida. Quero ser escritor. Começou a lavoura para o terceiro ponto, escritor?, que tipo de escritor?, poeta?, os dedos ampararam a carne, a outra mão empurrou a agulha. Escritor de chão, de chão não varrido, soalho antigo, cuspido, com cascas de tremoço e cerveja entornada. A enfermeira permaneceu atenta à ferida, distanciou a cabeça à procura de outra perspectiva. E escritor de chão porquê?, ela apresentou assim a sua curiosidade. Após um compasso de silêncio ele continuou a resposta, para escrever cartas de amor. O chão tem o corte perfeito para isso. Acresce que as cartas de amor devem ser escritas sobre chão encardido, para destacarem-se. A enfermeira passou sobre a sotura um rolo de gaze várias vezes, até perfazer o penso. Mas, para valerem, as confissões devem ser escritas em papel limpo. Ele concertou a camisa e começou a abotoá-la. Firmarei como subscritor as cartas de amor que hei-de escrever sobre o chão, não escreverei confissões. Sou animal de carne solta, não me confesso. Eu estupro, eu magoo, eu mato, não me confesso. o Marquês.