Para uma fenomenologia do capitalismo. Experimentem fazer um safari numa loja de roupa frequentada por teenagers. Esqueçam as que vão acompanhadas pela mãe e/ou pelo pai. A exasperação delas e o desespero dos progenitores merecem a compaixão que todos os miseráveis inspiram e, por isso, são um caso à parte. Fixem-se nas que andam em matilha, as deslumbradas ou de hábito. Nas que deixam os cabides, as prateleiras, as mesas e os provadores como se tivesse passado aí um tufão. Nas que, ávidas de reflexo, disputam os espelhos, abalroando a gente incauta estacionada diante, se necessário. Nas que soltam gritinhos e risinhos de hiena e esgotam o saldo do telemóvel a comunicar às hienas ausentes o que andam a ver e a experimentar, para inveja das outras. Nas que dizem a puta disse que veio cá ontem e já comprou, não quero. Carnes tenras e firmes, sem juízo, natureza apenas. Capazes de sacrifício, na hora de comer e de beber, para parecerem princesas ou meninas das revistas. O capitalismo cativa as almas cedo e ganha-as assim. E é assim que, em conjunto, somos arrastados para o fim interminável. A felicidade merece-nos. Segismundo.