Jack, o canhoto. Agora salmodiava a súplica, et dimitte nobis debita nostra, pretendendo alcançar a contrição através do rogo. Instantes antes observara com deleite o esgar de horror da senhora, o seu grito abafado, o charco de sangue e vísceras iluminado pelos rasgos lunares claros que alcançavam para além das frinchas da porta. Instantes antes também administrou grânulos de ópio e açúcar à senhora, com o propósito de prolongar aquele estado mórbido e, através dessa garantia dilatória, continuar o seu êxtase. As esporas do desejo acicatavam-no, como se fossem uma febre indómita. Aquela carne, a vibração sofrida e tensa da senhora, a concretizaçãoe e a observação do suplício, libertava-lhe a alma para além do horizonte da maior das delícias. Medrava-lhe a lascívia no corpo e ele emprestava as mãos à obra, como se através de si se manifestasse o demónio. Lambeu o suor, as lágrimas, o sangue, todas as secreções que a violência suscitou naquele corpo. Procedeu conforme a lubricidade que o amotinou, ora com brutalidade, ora com método laborioso, para que a senhora e o sofrimento da sua carne não se esgotassem subitamente. E, ainda antes regressar à lucidez, tentou esgotar o catálogo das súplicas canónicas, ora pro nobis peccatoribus, enquanto o sémen escorria da mão com que se benzia. O Marquês.