Entre Προμηθεύς e Σίσυφος. Outrora, com o apogeu do positivismo e do cientismo, a missão da verdade foi outorgada aos especialistas. Os técnicos - criaturas competentes, por definição - deveriam guiar as massas ignaras e ignotas no sentido da luz, como se estas fossem um mamute que, por estupidez ou fossilização, não consegue abrir a porta necessária de modo a seguir a sua jornada por bom caminho - caminho, que, óbvio, é o trilho da felicidade, a vereda dos álacres. E assim se foi vivendo, não obstante o ultramontanismo sugerido por personagens como Robinson Crusoe ou Walden. No entanto, à medida que o fim do mundo se foi aproximando, começou a perceber-se que a verdade é um assunto demasiado importante para ser outorgado em exclusivo aos cientistas e ao seu exército lumpen de engenheiros. No fim de contas, dois mais dois é igual a quatro porquê? O povo - pelo menos em alguns extractos seus - insurgiu-se e começou a reivindicar a sua quota-parte de voz na pronúncia da verdade. O que, perspectivado por determinado flanco, foi uma maravilha, no sentido em que libertou os gentios do jugo da merda da matemática e dos tecno-maníacos. Mas não há bela sem senão. Pelo que, com a popularização da verdade, hoje há mais especialistas em placas de aeroporto e minudências do género - sejam os Otanãos ou os outros - do que bétulas nos arredores da estação ferroviária de Mato Miranda. O que significa que, entre os pro e os contra o novo aeroporto não se sabe onde, estamos entregues a Babares e a Dumbos, as recriações teligentes do mamute. Segismundo.