Avé Maria. A forma mais inescapável e inclemente de fascismo é a maternal. É a mais inescapável porque é doméstica e apenas a orfandade garante esquiva. É a mais inclemente porque é uma cobrança permanente de uma espécie de dano e dívida uterina em relação à qual a criatura devedora não tem qualquer responsabilidade, mas, ainda assim, é devedora e terá que ser pagadora. Nada a fazer, portanto. Posto assim, ninguém julgue que o fascismo aludido se manifesta sob a condição de «sogra». Não, nada disso. O fascismo aludido manifesta-se sob a condição de «mãezinha». Exactamente, mãezinha. As provas são mais do que sobejas. Alguém experimente dizer à mãezinha que desconhece o paradeiro do tupperware que, um dia, com ou sem consentimento expresso dela, utilizou e levou sabe-se lá para que destino - atenção!, é provável que ela saiba e enuncie o destino referido. Qualquer mãezinha que digne a sua condição é um nazi dos tupperwares. Para além disso, alguém experimente surgir diante da mãezinha com a fralda da camisa de fora - a dar ares de jovial, não obstante a idade para ser homenzinho e ter juízo - e, pior, com essa mesma camisa, que tanto tempo consumiu a ser passajada, engelhada. Pois é, uma mãezinha é um Benito ou um Adolf das camisas aprumadas, sem vinco. Pelo que, comparado com qualquer mãezinha nestas circunstâncias, reconheça-se, Salazar mais não foi do que um corneto de morango. Segismundo.