Acácia, meu amor # xxix. Sabes?, meu amor, às vezes o corpo, o meu corpo, parece-me um território perigoso. Não sei como o evitar, como fugir dele, não sei como escondê-lo. Sinto-o demasiado meu, tanto, tanto, que quase o sinto eu. Como se eu fosse o meu corpo, o meu corpo apenas e só. Parece impossível, não é?, mas é assim. É uma estranheza dissoluta, em mim. É um império que me consquistou. Eu saio, guardo-me, e junto de mim, justamente onde estou, descubro o corpo, o meu corpo, como se ele me perseguisse sempre. Mas não é só isso, é também a sensação que aquele corpo sou eu, não que eu sou aquele corpo, percebes?, meu amor. É por isso que a necessidade é uma forma de me libertar de mim. Tomada pela necessidade, rumo à carne, corro, persigo o sangue que corre. O corpo, o meu corpo, vai comigo, acompanha-me na caçada, mas vai atrás de mim. À minha frente vai a carne, a carne que persigo, a carne que necessito. Eu vou no meio. E depois regresso a ti, meu amor. Eliz B.