Amadeo by night. Por motivos diversos, a cidade grande exerce um efeito de atracção significativo sobre muitas criaturas. Também é esse, uma densidade de gente excessiva e um défice de lugares de estacionamento para as cápsulas automóveis, um dos motivos do efeito de repulsa que gera. O que significa que, em termos de salubridade, Lisboa recomenda-se, mas não a todas as horas. Isto, porém, não tem qualquer interesse. O que interessa é que, por ler a página vinteecinco da edição de ontem do Público, ele ficou a saber que a exposição Amadeo de Souza-Cardoso. Diálogo de Vanguardas, patente na Fundação Calouste Gulbenkian, estaria aberta ao público, non stop, desde as dez horas am de ontem até às dez horas pm de hoje. Ele leu isto pouco depois das três da madrugada e sentiu o arrepio que usa sentir quando suspende o cérebro. Nada a fazer. Vestiu a condição de pêndulo, enrolou o cachecol ao pescoço, acelerou como um dromocrata, foi da cidade pequena à cidade grande. Lisboa num dos máximos possíveis do seu esplendor. Nas catacumbas da Gulbenkian quase ninguém. Largueza, silêncio ou sussurros vagos, tipo sopros breves sobre o silêncio. Amadeo entregue aos olhos, demoradamente, sem encostos, sem sombras dos outros. Ao mesmo tempo uma sensação de solidão e de soberania. Tudo visto e algo revisto, ele tornou à cidade pequena ainda sem sol. A mesma solidão, a mesma soberania, mais velocidade. A noite, onde os outros são menos, confere-nos um vagar estranho. É essa a nossa e a mesma diferença. O que nos encontra na condição afasta-nos no tempo e no espaço. Embora as horas e o chão sejam comuns. Segismundo.
said...
Exposição imperdivel e dificilmente repetivel dum genio que nos deixou tão demasiadamente cedo