Acácia, meu amor # xvi. A carne demora e, por demorar, é mais justa. A regra é confirmar o instinto, não o impulso. Antes de correr é necessário escrutinar um motivo. Uma vez encontrado esse motivo, correr contra ele é fácil. Mas o que vale não é a corrida, é o encontro, porque o que se pretende não é a ultrapassagem do motivo, mas a sua queda, a sua falência. Capturar é isso, precipitar as garras e os dentes sobre o que se adianta e foge. Daí que, antes, aquando o escrutínio, seja necessário vigiar, sondar o cerco pacientemente. Convocam-se todos os sentidos para aferir distâncias e precisar os ângulos de aproximação ao motivo. Esta operação cumpre-se em vagar, contra o vento, contra o tempo, corpo rés ao chão. A regra é confirmar o instinto sobre o impulso, soltar o impulso se e quando o motivo está ao alcance. Não há coordenadas exactas para o último gesto. Pode errar-se. Às vezes, mais do que se deseja, erra-se. Mas cumprido o impulso, despoletada a máquina de corrida em que existo, depois, a carne é já o destino. E antes dela apenas é a velocidade contra a fuga. Eliz B.