Proscenium vitæ humanæ, i. Fala-me sobre fantasmas. Fala-me sobre as vozes que te acordam, sobre os demónios que te consomem. Fala-me sobre os frutos nocturnos e as maçãs. Fala-me sobre a morcela de arroz e o pão de centeio. Fala-me sobre o frio, o avanço da infantaria contra as trincheiras, o gás mostarda e os mísseis. Fala-me sobre os prazeres e as artes. Fala-me sobre os erros e as conquistas. Fala-me sobre o significado do sangue, fala-me sobre a geometria dos caminhos e dos mapas. Fala-me sobre a preguiça. Fala-me sobre ti, fala-me de ti. Sabias?, Béla Ferenc Dezsõ Blaskó morreu num dia dezasseis de Agosto. Já estamos em Novembro, é quase Natal. Fala-me. Fala. Olha, a mancha da parede está a alastrar, aproxima-se. Não sei o que traz, se mais solidão, se mais silêncio, se os acordes do meu requiem. Fala-me. A mancha continua a alastrar, a aproximar-se. Recebeste o postal que te enviei?, que te enviei quando estive em Praha. Fala-me. Não sei mais o que possa ser a minha culpa ou o meu castigo. Fala-me. Segismundo.
imagem © Juste de Juste