“Os homens agarram-se ao diabo das recordações, a todas as suas desgraças, e é
impossível fazê-los sair delas. Ocupam-lhes a alma. Vingam-se da injustiça
do presente revolvendo no fundo de si próprios o futuro, juntamente
com a merda. Bem no fundo, todos eles justos e cobardes. É a
sua natureza”. *
impossível fazê-los sair delas. Ocupam-lhes a alma. Vingam-se da injustiça
do presente revolvendo no fundo de si próprios o futuro, juntamente
com a merda. Bem no fundo, todos eles justos e cobardes. É a
sua natureza”. *
Lamber a memória para lavar o pêlo. A víbora revisionista é uma das modalidades da estupidez à solta. O passado é o passado, foi o que foi. Quem não é capaz de (con)viver com o passado - e, portanto, de (sobre)viver -, antes de começar pateticamente a reparar factos entabuados, como quem sacode o entulho que existe sobre a tumba ou enxota moscas, dispõe de uma solução airosa. Matar-se, passar à história. Só assim conseguirá livrar-se da culpa. Da sua e da dos outros. Não há outro modo asseado e autêntico de ajustar contas com o que já foi. Segismundo.
* Louis-Ferdinand Céline, Voyage au Bout de la Nuit.