O arranj(inh)o político perfeito. No âmbito da manobra com intuito de «renovação sustentada» da bancada parlamentar comunista, aconteceu que uma senhora deputada do PCP disse que não senhora, isso é que era bom e bonito, e insistiu em ficar na honra, a deputar. Volta vai, volta vem, emergiu o escarcéu habitual, que isto e que aquilo, muitas certezas e quase tantas sentenças. O caso, porém, é virtuoso. Serviu para que as gentias criaturas mais incautas ou distraídas percebessem que o enredo político é uma sucessão de nós sobre nós, montada e embrulhada num universo de ilusões convenientes e simpáticas. Em rigor, significa isto que as coisas tanto podem ser assim como ser ao contrário. Os limites formais são suficientemente concertáveis e dúcteis para permitir soluções diversas. Para além disso, o pluralismo político, na prática e pela prática, tem uma virtude iniludível, mistura, em cocktail e em caldeirada, uma fauna imensa. Tudo, obviamente, em boa intenção da pátria. E de mais além, a ideologia, a doutrina, a vidinha ou assim. Quem pode censurar? As coisas são como são. Às vezes o novelo político desenrola assim, às vezes desenrola de outro modo qualquer. Chama-se a isso contingência. Tal e qual como na puta da vida, em que até as contingências são contingentes. Nicky Florentino.