Le Bataclan Asylum, # iv. Uma lâmpada fluorescente, em instalação improvisada, providenciava a iluminação do gabinete do detective. Um insecto atraído pela luz chocava repetidamente contra a gambiarra, como se, por instinto, fosse impelido a inseminar aquele branco baço. Estava sozinho, como se desejava, recostado na cadeira. Levantou-se. Ergueu um vaso, o vaso da orgia. Celebrou a carne e o molho. Depois começou a gritar, morte aos redentores! Mas não lhe bastou o clamor, pelo que argumentou, acuso os legisladores, cães de vício, de se fingirem livres e de quererem vincular todos à sua putativa liberdade. Acuso-os de prostarem-se, como as bestas caudadas, e de quererem confinar a vontade de cada um de nós à sua vontade. Passou a mão pelos lábios, livrando-os do excesso de saliva, e acrescentou, que sejam suprimidos os legisladores, falsos profetas, por pretenderem cumprir a função de uma inexistência, a regra única. Arremessou o vaso contra o chão, partindo-o. No instante seguinte, tornou à sobriedade e calou-se. Lançou os olhos sobre o espelho. E, ao mesmo tempo que se olhava através do reflexo, murmurou, como se estivesse a confidenciar a si, na minha carne é a minha dor apenas. Por isso tomo-a a minha regra e nenhuma outra. Sobre a secretária, havia uma culpa ainda por determinar, um dossier aberto. Fechou-o. Tornou a rescostar-se na cadeira, esticou as pernas e pousou as mãos, com os dedos entrelaçados, sobre o peito. Posteriormente suspirou. E, sem destrinçar as mãos, consertou-as contra a nuca. Mesmo após as ter lavado, ainda sentia nelas o perfume de lavanda. O Marquês.