A intrusão de si e em si. Falas sobre a liberdade como falas sobre ti. Falas sobre a liberdade, em ser senhora de ti, e não vês, sequer vislumbras, quão encarcerada estás no teu corpo. Que é teu não por ventura ou vontade tua, mas por capricho da natureza, contigência e lotaria da vida, talvez puta da vida. E, mesmo assim, sentes-te entranhada nesse corpo, como se o fosses e fosses senhora dele e, através dele, dona de ti, your own master, the master in command, master and commander. Compreendo-te. A ilusão do domínio e da submissão em ti e por ti facilita-te a emancipação, tanto em relação a ti quanto em relação aos outros. Sabes?, em muitas ocasiões é esse o meu itinerário também. Mas, para me sentir livre, o mais das vezes basta-me clamar «não me fodam!». O grito acorda-me, não necessariamente me faz consciente, e suporta-me a ilusão que é sobretudo o estorvo alheio que me incomoda. A culpa, assim, torna-se leve, levíssima. E a liberdade é isso, (con)viver com a própria culpa, mais do que com a culpa dos outros, mesmo daqueloutros que também somos e pelos quais nos expiamos. O corpo é o que nos leva. Segismundo.