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Albergue dos danados

Blog de maus e mal-dizer 

2006-10-28


Why can’t I be you? E tu?, quantas faces tens? Julgas-te perfeito?, exacto?, sem mácula? Imaginas-te arquitecto?, compositor de paisagens e almas? Julgas que os sacrifícios são meras parábolas do Levítico?, que não doem? Vai-te foder! Sim!, vai-te foder! Acreditas na redenção? e na reencarnação? Fazes campanha pela abstinência?, pela decência? Logo tu!, tu que temes os avatares da carne, tu que finges a ausência. Em ti não creio. Se pudesse mordia-te o coração. Tens comichão? E saúde?, também tens? Vai-te foder. Vai-te foder! Dizes, ai!, estou tão emocionado... Dizes, ai!, estou tão arrependido... Estás?, fingido. Não!, não estás! Exibes a tua vulnerabilidade para inspirar piedade. És fraco. Vacilas. Pões as coisas ao contrário, sem mistério, e, ainda por cima, rogas esperança? Vai-te foder, pá. Vai!, vai!, vai! Vai-te foder! Isto não é a tropa. Isto não é o fim do mundo. Percebes? Percebes? ou não percebes? Consciência rima com resistência. Não é por acaso. A tua força?, qual força? O mundo... É a vibração higiénica do corpo, sentes? A electricidade, que te atravessa, liberta-te. Sofres, mas danças melhor. A dor conforma-te à coreografia. Abjecto rima com objecto e discurso directo. E daí? Perturbado?, sentes-te perturbado? Mas como?, se tu és uma ficção. Afasta-te! Vai-te foder! Não fales de circo. Não invoques qualquer divindade. Vai-te foder!, pura e simplesmente. Estás morto. A tua eternidade não existe. Tu não existes. Vai-te foder!, corpo renunciado. Vai. Vai. A tua exposição é doentia. Vai e leva as vozes contigo. Vai. Desisto de ti, prescindo de ti. Quero lá saber do Benfica!, quero lá saber do Sporting! Quero lá saber de Madaíl, quero lá saber de Scolari. Não cantes canções de piratas. Não digas segredos. Quero lá saber de São Bento. Quero lá saber de Bush ou de qualquer outro que na mesma mão segure a Bíblia e uma garrafa de Jack Daniel’s. Não existes. Tu não existes! Vai-te foder. Acorda. Acorda! Desiste. Acorda! Eu vou-me embora. Mas fico. Tu não existes. Eu fico. Acorda! que eu, agora, vou dormir. Acorda! Numa ilha? Numa ilha basta Montaigne, Rimbaud, Verlaine. Nick Cave e Tom Waits. Jarmusch. O mais, tu incluído, que se foda. Se és vedeta de teelvisão, não te conheço. Não vejo teelvisão. Não tenho teelvisão. Que se foda. Que se foda a Nike! Que se fodam as majors e os grandes estúdios! Tu não existes! Não existes. És como o animal que não há no jardim zoológico porque não existe. Quero lá saber de Sylvester Stallone ou de Arnold Schwarzenegger. Quero lá saber de Jean-Claude Van Damme ou de Steven Seagal. Quero lá saber de Vin Diesel ou de vinho diesel. Não confio em ti. Não confio em inexistências. Que se fodam os espelhos, as cartas e os dados. Que se fodam os senhores do golf e o rapazes do Grand Slam. O veneno?, o quê do veneno? Nunca te vi e já vi com nitidez inexistências mais estranhas do que tu, veados a comer coelhos. Que se fodam os anarcas e os anarquista e todos os discípulos de ismos, todos os eses, esses qualquer coisa que não apenas eles mesmos. Que se foda o mundo, todo, inteiro. Que se foda, sem ponto, sem final, sem parágrafo, aqui e já. Jazz. Jaz. Já está. Tu, toma!, toma!, não existes. Tu não existes! Porém, à cautela, vai-te foder. Acorda. Acorda! Esquece. Vai-te foder. Eu vou dormir. Segismundo.


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