Mas o que é que moral tem a ver com alvenaria? Escreveu o Pedro, “o aborto é uma questão de moralidade. Portanto, o aborto não deve ser objecto de discussão pública”. Poderia complicar-se o caso, perguntando por que é que o aborto é uma questão de moralidade? Mas isso não é expediente que adiante. Se o aborto é uma questão de moralidade, é uma questão de moralidade, ponto final e tal. Mas o mais interessante não é isso. É a autocontradição performativa inscrita, e porque inscrita, no corolário. Repita-se, escreveu o Pedro, “o aborto não deve ser objecto de discussão pública”. Mas escreveu esta sentença onde? Na intimidade de uma página qualquer da sua sebenta de apontamentos? Não. Escreveu-a numa plataforma com publicidade, um blog. Portanto, insista-se, se “o aborto é uma questão de moralidade” e “o aborto não deve ser objecto de discussão pública”, por que raio é que o Pedro escreveu sobre o dito objecto num blog? Sabe-se lá, não é? Segismundo.