Jeder für sich und Gott gegen alle. Ocasiões há em que o problema é o enunciado do normativo jurídico ou o seu modo de aplicação, modo considerado desde a não aplicação até à aplicação discricionária ou à aplicação abusiva. Mas o mais das vezes o problema é simples e outro, com origem sobejamente recenseada: a desfaçatez e o défice - para não afirmar a ausência - de pudor da generalidade das criaturas, gentios ou senhores. Numa ou noutra condição, a propensão à manigância junta-se ao «ai que chatice, isso agora não me dá jeito». E, desse cocktail de virtude, oportunidade e conveniência, nasce a miséria que somos. Portanto, aqui, sobre este chão chamado Portugal, o problema não é o individualismo indómito ou a corrosão da alma colectiva. Também não é a ressurreição do senhor dr. Pedro Santana Lopes de entre os cadáveres. O problema é a portugalidade que, por e para cada um de nós, todos os dias confirma as mátria e pátria devolutas a que damos e empregamos identidade. Quase é caso para gritar: puta a sorte que nos fez paridos aqui! Mas, como é óbvio, o problema não é de nascença ou de ares herdados. É do estupor que, crescidos, cada um de nós é ou tolera. Uns mais dos que outros. Mas, por acção ou por consentimento, todos. É isso que nos faz a felicidade e a comunidade que somos. É isso que alivia a culpa e forja o orgulho. Somos assim. E, aleluia e mistério, cada um é o que é, para não se confundir com os outros. Nicky Florentino.