Caem sombras sobre o campanário da paróquia. Esta noite, no estabelecimento teelvisivo dominado por uma senhora jornalista armada em patroa de taberna, discutiu-se o propósito e a proposta governamental de revisão do regime de finanças das autarquias locais. De um lado estava o cinismo jacobino mal disfarçado, no corpo do senhor ministro de Estado e da Administração Interna. Do outro lado estava uma vítima falsa e fingida, representada pelo senhor presidente da AssociaçãoNacionaldeMunicípiosPortugueses. Como um e outro, assim como os respectivos aliados, evitaram aduzir argumentos atinados - às tantas até começaram a discutir as suas legitimidades como se estivessem a comparar o comprimento e a secção dos respectivos pirilaus -, surge necessário aguardar o resultado do escrutínio do próximo fim de semana dos jogos de sorte explorados pela SantaCasadaMisericórdiadeLisboa para saber quem ganhou. É que, embora se saiba que ganharam os da banda jacobina - a maioria parlamentar socialista já havia garantido tal resultado -, é necessário manter o suspense. Nicky Florentino.
Post scriptum. Entre a segunda metade da década de setenta e a primeiro lustro da década de oitenta do último século, o mesmo assunto foi discutido com gravidade no Reino Unido e nos EstadosUnidosdaAmérica. Então, o governo de Margaret Thatcher e a administração de Ronald Reagan, também a coberto da necessidade de reparar o stress orçamental, patrocinaram a revisão dos normativos que regulavam as finanças das unidades territoriais com autonomia administrativa. Dessa lotaria sabe-se o resultado. Os jacobinos venceram. E sabem-se também as respectivas consequências.