Os dias do império e a falência. Não há tragédia maior do que a sobrevivência à própria miséria. E se houvesse? Ele não quer saber. Não, não quer saber. Não quer saber, mesmo, em tom enfático. Disse que renunciava a tal saberdoria. Hoje até falou em nojo, falou em asco. E, como às vezes destila, acrescentou que quer que o mundo, todo, inteiro, se foda. O que é uma pretensão absurda. Ele é no mundo. Ao accionar o autoclismo ele irá no dilúvio também. Nem é mais nem é menos do que os outros. Porém até esse facto ele quer que se foda. Como se pudesse. Como se fosse possível tanta amargura, tanto desamor, tanto desprendimento em relação a si mesmo e às consequências sobre si. Numa primeira abordagem, parece o caso justificasse a sua catalogação como loucura. Mas não, não é desvario. Também não é subsídio para o suicídio. É repetição, coerência, insustentabilidade. É a estupidez em manifestação autofágica, como se fosse um fecho éclair a correr inutilmente. Zip e nada. Zip e nada. Zip e nada. Zip, zip, zip, zip e nada. Que se foda. Amanhã não será diferente. O mundo sobrevive-lhe. O que faz com que ele e o mundo, assim como o mundo e ele, sejam merecidamente comuns. Que se foda, uma vez mais. Apenas para firmar e para confirmar a sua disposição. Neste instante, ele admite, o que deseja é simples, oscila entre um mil-folhas e a condição de desenho animado. Não, não é adepto do credo segundo o qual a alma se recicla no e pelo perdão. A alma, qualquer alma, confirma-se na culpa. É por esse lodo espectral, é afogados nessa fossa psic, que somos quem somos. Por quase nada hoje poderia ter-lhe sido um dia diferente. Embora a culpa, essa, tivesse sido a mesma. Alma e, depois, logo, por associação, deus não se sabe o quê. Deus? Sim, deus, pois claro. Mas hoje é domingo. A criatura esteve retirada - está sempre! -, em descanso. E sabe lá deus o que é um mil-folhas. Que se foda. Reitere-se, por quase nada e. Segismundo.