O livro das fugas
ii. A esquiva
Grito hemorragia!, hemorragia! e olham-me com espanto. Não derramo sangue, não agonizo. Dou pulos, dou saltos, aviso. Afio o gume da lâmina. Dou cambalhotas e faço acrobacias com as mãos. Continuam a olhar-me com espanto, como se fossem testemunhas da transubstanciação, em mim, do juízo em loucura. Apenas ela se aproxima e diz sossega, estou aqui, venho buscar-te. Reajo, mas quem és tu?, eu não te reconheço. Depois grito, grito sobretudo para os outros, sou uma pedra de xadrez!, pedra de carne!, não jogo à macaca! Dou um passo atrás, afastando-me dela, e digo-lhe foge, foge que eles vêm aí agora, estão a aproximar-se, foge antes que te embarguem. Mas ela fica e estende-me a mão, disposta a colher-me, parecendo expressar uma cumplicidade através do gesto que não sei se é cumplicidade. Os outros, não obstante a aproximação, permanecem a uma distância significativa. Então clamo epidemia!, epidemia! E ela repete sossega, estou aqui, venho buscar-te. Mas eu não me entrego. Também não vou com os outros. Simulo a corrida, saio. Eliz B.