Há faena e fanecas no hectare, xxxii. A puta da indignação é fácil. Zizou deu uma cabeçada no peito de Materazzi. Isso é evidente. Mas o que é que o italiano disse a Zinédine? Quase ninguém parece interessado em saber. A maioria contenta-se com a evidência da violência física observada. A violência física é violência e vê-se. A violência verbal é apenas provocação - portanto, não violência - e não se vê. A estupidez alimenta-se por este tipo de roteiros insensíveis. Apenas pelo que os olhos vêem. Como se os demais sentidos tivessem sido capturados. Como é óbvio, nada disto absolve Zidane ou faz esquecer a sua (re)acção. Também não necessita. Ontem marcou um penalty com a elegância e a economia própria apenas de quem joga futebol com os deuses e vence. Buffon para um lado, bola para o outro, a ultrapassar a linha quase apenas na medida do respectivo diâmetro. Isto os olhos esquecem. Os olhos não são um órgão de recordações. É por isso que o juízo carece de provas, de documentação. Os sôfregos, os incapazes de memória, apenas manifestam indignação pela cabeçada de Zidane no peito de Materazzi. Pobres coitados. Jamais farão história. Ou, melhor, farão apenas a história deles. Provavelmente tão pequena quão limitada é a informação com base na qual sustentam a sentença no caso. Reitero, como é óbvio, nada disto absolve Zidane ou faz esquecer a sua (re)acção. Também não é necessário. Conde Isidoro.
imagens © AFP e Michael Dalder / Reuters