Das anunciações do regime. Olhando a paisagem política, parece que quase nada acontece, excepto a modorra dos dias comuns. Mas, entretanto, sob o véu da opacidade típica dos partidos políticos, no CDS/PP, no PS e no PSD as entranhas das respectivas hostes pululam. Na prática, pelo jogo dos poderzinhos vão-se tecendo os poderes, os poderes que, pela confirmação ou pela báscula eleitoral, serão poder amanhã. Uma parte significativa do ranço partidário é processada no âmbito destas manobras internas, após as quais, por via de uma amnésia extraordinária, é olvidada a sua inexistência. E ao que resulta do jogo das manhas, manigâncias e expedientes afins, jogado durante tais manobras, é outorgado um estatuto limpo, institucional. Depois, aparentemente, o lodo volta a assentar. E o simulacro da salubridade torna a inspirar a ilusão do asseio político. Tudo isto se passa à margem dos sensíveis sentidos da maioria dos gentios, demasiado preocupados e entretidos com a sua vidinha. Daí que, pelas notícias que sobre o assunto têm vindo a ser estampadas no Público, se perceba que o futuro voltará a acontecer como confirmação da culpa de ninguém. É claro que alguns ainda se atrevem a falar em esperança. Mas, pela comédia, o futuro será drama e será tragédia, outros nomes da miséria. Que é o que Portugal é. Nicky Florentino.