Condomínio. Há lugares onde o ritmo do tempo é mais lento, onde se podem colher os frutos na origem. São redutos para a fuga, para a ausência, poços de tónico. São santuários de distância e reencontro, sem companhia. Mas, agora, é quase sempre tempo de vertigem. Estar em jogo. Concluir a missão. Deixar estalar o corpo. Até partir, até cair. Porque a possibilidade de fuga está reservada a quem goza a hipótese de regresso. O tempo disponível, porém, não permite mais do que o pêndulo de movimento curto, a brevidade. Por isso, fica-se no mesmo lugar estranho de todos os dias. Aqui é a presença. Aqui é onde o fio da navalha rompe e talha. Aqui é estar. Aqui é um momento, uma fortaleza que guia e guarda. E ali é o horizonte. Longa é a espera dos sedentos e dos famintos. Longa é a marcha para lá. Lá onde ninguém vigia os errantes, onde não há coordenadas, apenas passos, tempo lento e preciso, exacto. Lá onde os caminhos são abertos e não corredores entre muros, paredes, apertados contra o chão. Lá onde há lado de fora, exterior, engano e dúvida. Lá onde o céu é céu aberto, onde a chuva perfuma a terra. Lá de onde também se foge para o destino, para aqui, onde já nem se sabe nem o regulamento permite caminhar com os pés descalços. Porque aqui é tanto a casa de partida quanto a volta. Segismundo.