A vergonha republicana. Ética cada um tem a sua. A lei é para todos e por igual. É por isso que, em abstracto e como fundamento republicano, a lei, geral e universal, é preferível à ética, particular e singular. Que, depois, a lei não seja suficiente para garantir a responsabilidade dos sujeitos é mau soneto que não se remedeia com a ética, dispositivo demasiado doméstico, de cada um e consoante a respectiva (in)consciência. Em termos públicos - porque pode estorvar-se um mal, não estabelecer-se o bem -, mais operativo do que ética é a vergonha, entendida como um temor soft, que afecta a honra, título e valor pessoais cotados pela respectiva tribo. Pelo que cada vez mais a civilização e a república, no que podem ser, definem-se pela atenção à linha do opróbio, da infâmia. Não pela atenção à linha da virtude ou da ética. Que, em rigor, ninguém sabe bem o que é. Nicky Florentino.