Sultans of swing. Nos bailes, os rapazes nunca perguntaram à Jacinta a menina dança? Para além de ser feia, a moça não primava pelo arranjo e, embora fosse asseada, tinha fama de viciosa, não seguro o proveito. Sempre preterida, nunca convidada para dançar, o seu corpo jamais experimentou a vibração autêntica do swing. Também por isso, Jacinta não conheceu o sacramento matrimonial e dedicou-se à pedicure. Ao tocar os pés das mulheres que lhe solicitavam os préstimos, Jacinta muitas vezes imaginou-se a dançar, arrebatada pelos braços de um qualquer dançarino. Em casa, sozinha, simulava passos e compassos de dança, guardada na esperança de um dia um rapaz lhe estender a mão, puxá-la para o centro do arraial e entreter-se com ela em voltas e volteios. Por demorar esse dia, Jacinta decidiu proporcionar a si mais oportunidades, através da diminuição da concorrência. Durante algum tempo limitou-se a cortar, cerce, pés, fosse o direito, fosse o esquerdo, às raparigas solteiras. Mais tarde, com a sensibilidade ecológica mais desperta, Jacinta começou a aproveitar esses pés. E, envolvida por melodias e ritmos de Benny Carter, treinando passos de dança junto do fogão, esmerou-se em mais do que foot massage, tratamento de calos ou limagem e pintura de unhas. Apurou-se na confecção de pezinhos de coentrada. Os rapazes, porém, como sultões, continuaram a não convidá-la para dançar. Preferiram sempre outras. O Marquês.